viernes, 13 de septiembre de 2013

Pasarela de egos y necesidades

Preciosa reflexión sobre la estupidez de la arquitectura de "pasarela" y la necesidad de pensar en la función social del diseño, por tanto de la labor del arquitecto con el cambio de la calidad de vida de nuestra sociedad.

Zaha Hadid modelando frente a su edificación para la Marina de Glasgow, Glasgow. Fuente: http://givemethatgrape.wordpress.com/2013/04/25/zaha-hadid-de-la-poesia-a-la-estructura/

Arquitetura, obsolescência e estupidez
Humberto González Ortiz

Intelectuais e artistas devem começar a questionar este “star system” de uma arquitetura excludente. Nós, arquitetos, devemos questionar nosso papel na globalização do design “hightech” de ultima geração. Precisamos encontrar urgentemente uma outra arquitetura que responda a todos os interesses que a sociedade moderna exige. Referimo-nos a necessidade de uma arquitetura adequada, de qualidade, de necessidade e de urgência.

Uma arquitetura que procure democratizar essa moderna arquitetura de passarela, que vende seus exclusivos desenhos e os expõe como um símbolo da globalização, da riqueza e do poder. Mesmo agora em plena crise global!...

E para um exemplo, o Hotel Puerta de América, inaugurado no ano da disfuncional bonança de Madrid e que, nas palavras do arquiteto catalão Oriol Bohigas, foi;

“um projeto de baixíssima qualidade que acumula tudo de pior do pós-modernismo e do tecno-junky, e cujos promotores têm sido capazes de o mostrar como um gozo mediático ao fazer intervir a popularidade dos arquitetos, designers e especialistas no desenho de interiores e enfeite de fachadas com a colaboração artística nos toldos, Foster, Nouvel, Hadid, Isozaki, Vitorino e Luchino, Mariscal, etc. - um andar desenhado por cada um deles - para dissimular a baixa qualidade dos recursos ornamentais, delegando à propaganda comercial a tarefa de lograr a solvência profissional que a gente tinha apreciado nesses arquitetos.” (1)

Acho que este é um exemplo que expõe minha denuncia duma arquitetura que tornou (e ainda torna) frívola a profissão e que está claramente alinhada com a fama estúpida do “share televisivo” que os arquitetos conformaram, pelo menos, nas duas últimas décadas.

Quando ando pelo PobleNou, em Barcelona, confirmo como os arquitetos tornaram-se peças de marketing para as empresas de construção, empresas comerciais, prefeitos e cidades que queriam se apresentar como marcas globais (2) que oferecem ao visitante “o melhor” da arquitetura atual. E hoje sofremos por causa deste procedimento arquitetônico e político, vivendo numa cidade que se oferece ao visitante e se afasta de seus cidadãos comuns e mortais.

Precisamos refletir seriamente, deixando de observar com encantamento a chamada arquitetura de autor e começando a olhar em direções mais realistas, imprescindíveis, iniludíveis. Precisamos oferecer respostas na pesquisa, no projeto e na construção e, em voz alta, dizer que sim: temos alguns poucos arquitetos e pesquisadores que procuram avidamente situações reais através das rachaduras do presente, construções possíveis e teorias válidas para este mundo arquitetônico cheio de frivolidade, cheio de “hightech”, “renders” e Autocad (agora Catia e SolidWorks), pós-modernismo e procura da fama de supostos “grandes” arquitetos que têm concordado em criar uma teoria e uma arquitetura egoísta, esnobe e, vamos falar claramente, um pouco estupida.

E a evidência é tanta que vemos já muitos críticos previamente alinhados com o “star system” (que coisas que tem a realidade!) e que antes adoravam os “arquitetos figura”, agora começam a entrar em nosso território e falar de “coletivos sociais” e organizar “ocupações” na Bienal de Veneza para “denunciar” (com a boca pequeníssima) que os arquitetos e a arquitetura devem modificar o foca numa espécie de progressismo burguês da arquitetura do século XXI.

O certo é que trabalhamos já, ao longo de varias décadas, com um grupo não pequeno de arquitetos, pesquisadores e proponentes que tem recusado a tendência dessa arquitetura narcisista, do poder e do espetáculo. E que faz tempo que nós aderimos ao pensamento de Serge Latouche (3), que propõe: “o decrescimento que, ao contrario do crescimento negativo o da crise, consiste precisamente em sair dessa lógica que condena, de um jeito obrigatório, a destruir o planeta para criar empregos. Através do decrescimento, ao contrario, criaram-se empregos para salvar o planeta.” (4)

Em suma, vamos deixar de lado essa arquitetura de “alta costura” e vamos olhar de perto e com cuidado as arquiteturas prêt-à-porter que se dedicam, de forma eficaz, a solucionar problemas reais neste mundo real. Afastando-nos do glamour e das frivolidades artísticas em que vivem algumas das equipes de arquitetos famosos (5), que não estão preocupados no oferecimento de alternativas arquitetônicas para a pobreza, uma maioria no mundo atual. É, por isso que, desde nossa visão ambidestra do mundo, queremos ressaltar uma arquitetura e um arquiteto que inclui no seu trabalho as verdadeiras demandas sociais do século XXI, ou seja, que 60% do mundo precisa de tudo e para ontem.


No precisamente modelando, mujeres en jornada de trabajo colectivo. Comunidad María Auxiliadora, sur de Cochabamba.
Notas

NE
Tradução Simón Fique

1 BOHIGAS, Oriol. Profesionales como reclamos comerciales. El Pais, Madrid, seção Catalunha, 9 fev. 2005, p. 3.

2 Barcelona continua acreditando ser uma marca mais que uma cidade... e a gente paga muito caro por isso!

3 Professor da universidade de Paris XI e um dos impulsores da teoria do decrescimento.

4 Entrevista do José Bellver (Madrid), 10 de fevereiro, quarta, ano 2010. Numero 118 e 119. Acessado em dezembro 2011: http://www.diagonalperiodico.net/Salir-de-la-sociedad-de.html.

5 Não acharia estranho ver alguma equipe destes arquitetos pulando na piscina na próxima edição do frívolo programa “splash”, que muitas cadeias de televisão oferecem em horário nobre.

Sobre o autor

Arquiteto da Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional Autônoma de México. Doutor em Arquitetura pela Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, da Universidade Politécnica de Catalunha. Tese Doutoral: “Carlos González Lobo: Caminhos para o alternativo dentro do âmbito conceptual, do projeto e do contexto da arquitetura”.

Fuente: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.067/4710

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